Relacionamento e Relacionar-se em Amor



Continuando a sequência dos textos a respeito de amor-liberdade, hoje falarei sobre a diferença entre um relacionamento convencional e um “relacionar-se” em amor. Estamos todos acostumados a ver, ouvir e vivenciar relacionamentos, alguns bons, outros muitos ruins, separações, brigas, traições, desconfiança e incertezas. Você já ouviu falar de “relacionar-se em amor”?

Quando uma pessoa em solitude atinge o autoconhecimento e o amor interior, surge então uma nova qualidade: o “relacionar-se”. A pessoa que conhece a si mesma e possui amor dentro de si, vive em comunhão com o Universo; está conectada ao Todo, ela se sente feliz consigo mesma em sua presença, ela não depende de alguém para ser feliz, ela deseja compartilhar esse amor para com as pessoas, de uma forma livre, harmoniosa, sem cobrança ou apego. O amor entre duas pessoas iluminadas pelo amor interior apenas soma, permite com que ambos cresçam de forma interdependente. Esse relacionar-se permite que cada um seja o máximo de sua individualidade, permite ser você mesmo, respeitando e compreendendo, entendendo que o equilíbrio entre a razão e a emoção, dos pensamentos às ações fluam naturalmente. Relacionar-se em amor é viver religiosamente, o outro se torna sagrado e ao mesmo tempo torna-se você, da mesma forma como somos a imagem de Deus, da mesma forma como pertencemos ao Todo e o Todo pertence a nós. Falo de um relacionar-se livre de rigidez, de limitações, de controle e sim de inocência, de liberdade, criatividade, fluindo como um rio, livre e harmônico, não apegado a nada, sem medo de desaparecer no oceano. Quando falo em desaparecer no oceano, falo de uma entrega total ao amor, sem medo de que seu ego desapareça, sem medo de que os dois se tornem apenas um, porque é o que irá acontecer quando duas pessoas amorosas escolhem compartilhar do amor.

Quais os maiores erros dos relacionamentos? Relacionamento já a palavra sugere uma idéia de troca, de dependência; é o maior mal da humanidade, é o que faz gerar medo, raiva, ódio e apego. Amor não é relacionamento e relacionamento não é amor. Relacionamento é algo concreto, amor não.

O primeiro erro, que é o mais comum na sociedade, é a pessoa não ser resolvida no núcleo familiar. Quando falo disso, falo em todos os sentidos possíveis, falo de compreensão, respeito, liberdade, desapego e principalmente o amor. Quando a pessoa não é resolvida então ela buscará em outras pessoas suprir seus vazios, suas carências e dependências, vai sempre ter a idéia: “não quero um relacionamento difícil como o dos meus pais” ou então: “não quero uma mulher chata e controladora como minha mãe”, ou ainda “não quero um bêbado como meu pai”. Essa não aceitação na verdade gera atração! Isso mesmo! Quando você não quer algo, atrai inconscientemente isso para você – é a Lei da Atração. Ainda existem muitos padrões como achar que nosso pai é um super-herói imortal; ilusão essa que gera além do apego, uma acomodação e também um vazio dentro da pessoa, pois ela depende do pai, não poderá jamais ser completa, jamais poderá amar outra pessoa. E tudo que temos de mal resolvido na família será espelhado nos relacionamentos. Nossa família é o primeiro aprendizado para o amor e liberdade. Se você não é resolvido e despegado do pai, mãe, irmão ou irmã então não poderá relacionar-se com alguém de forma amorosa. É na família que devemos aprender o valor da compaixão, do respeito, da individualidade, da aceitação. É comum possuirmos pais rígidos, teimosos ou enfim, difíceis. Mas o contrário também é problemático, superproteção e liberdade sem educação também é problemático. Mas então? Não importa! Esse é o ponto! Temos que apenas compreender, aceitar, amar e acima de tudo, nos desapegarmos. O entendimento disso gera uma grande maturidade dentro da pessoa, gera amor incondicional, gera completude.

Qual o segundo erro? Na verdade, quase todos os problemas de relacionamento derivam do anterior. Devemos buscar a espiritualidade, a conexão com o Todo para nos desfazermos das ilusões e das incompreensões. O mestre Osho diz: “A única ilusão é uma pessoa se ver separada do todo. Todas as outras ilusões se originam dessa.” Mas existem muitos erros que as pessoas cometem nos relacionamentos, entre eles, a não totalidade na ação – falo da geração de karmas pela não completude e incompreensão das ações. Um exemplo é quando terminamos um relacionamento e não o superamos, não perdoamos, não nos desapegamos e nem compreendemos a lição que isso nos traz. Quando isso ocorre, carregamos o padrão e espelhamos no próximo relacionamento, trazendo a tona todos os mesmos problemas e então, você pode procurar e trocar de relacionamento e será sempre a mesma coisa, você fará comparações, ficará sempre com um pé atrás e nada mudará. Outro erro bem comum e confundir namoro e casamento. Namoro significa conhecer um ao outro, compartilhar de momentos juntos, divertirem-se, de forma livre e descompromissada. E é nesse ponto que existe um grande erro. Se estamos aqui na Terra para aprender a amar, para conhecer a si mesmo, para saber o que gostamos e o que não gostamos, como podemos transformar namoro em compromisso? É por isso que atualmente existe o fenômeno “ficar”. Você “fica” com um, com outro, sem compromisso, porém isso está completamente desequilibrado e profanado. Existe na maioria dos casos apenas uma intenção sexual e não a intenção do “se conhecer”. Minha avó que nasceu em 1930, já me relatou como foram os seus namoros em sua época – ela teve vários! Namoro era o homem ir até sua casa, conversar com ela na sala, na presença da família, sem beijos e nem toques! Apenas conhecer. Então também iam para igreja juntos, ele a acompanhava até sua casa na volta. Veja que são duas pessoas independentes. Minha avó relata que ela era muito desapegada de casamento quando jovem. Ela foi uma grande costureira, tinha de 10 irmãos, sendo que das mulheres ela é a segunda mais velha e, portanto, cuidava deles, cuidava inclusive de sobrinhos que já existiam. Ela me contou que certo dia seu pai perguntou: você não quer se casar? Vários homens gostam de você, mas você parece não ter interesse por eles, e então ela responde: eu espero o “homem do cavalo branco” ou então, prefiro ir para um convento. Quando ela se referia ao “homem do cavalo branco” se referia a um homem puro, humilde, de bom coração, interessado em trabalhar e criar uma família. E então certo dia, chega até sua casa o homem montado em seu cavalo branco! Foi então que ela sentiu pela primeira vez algo forte por alguém e escolheu casar com meu avô! Claro, muito poético! Então vou esclarecer alguns detalhes. A irmã do meu avô já era casada com um dos irmãos da minha avó, portanto, já conhecia meu avô. Certo dia meu avô a convidou para acompanhá-la a uma festa comunitária. Foi aí que começaram a conversar e, como a distância entre as famílias era grande e ele ia até a casa dela caminhando, começou a ir visitá-la com sua mula branca e assim começaram a namorar. Ela sabia que casar seria um desafio; ajudar o marido na colônia, cuidar da casa e filhos e deixar sua paixão pela costura de lado. Mas ela acreditou em apenas uma coisa: o amor.  A principal frase que ouço da minha avó é: “a mulher deve aceitar o homem, apoiar, dedicar-se, silenciar quando necessário e acima de tudo compreendê-lo”. A mulher é quem define o relacionamento. Não é o homem que escolhe, ele sempre será o escolhido. A mulher tem muito mais poder que o homem, ela possui útero, ela traz vida ao planeta. Mas atualmente homens e mulheres não sabem mais o significado de tudo isso, preferem a individualidade egoísta, preferem aproveitar-se um do outro, perdendo o sentido da existência humana, desconectado do Todo, afastado do amor. Creio que a história de minha avó paterna diz muito, mas mesmo assim, quero ainda fazer algumas colocações dentro de nossa realidade cotidiana de relacionamentos.

Devido a toda essa desconexão da sociedade com o amor, o namorar tornou-se uma “alternativa” segura em buscar algo sério, não profano, mas infelizmente não é o correto. Vejo muitos namoros problemáticos; traições, dependências amorosas, falta de individualidade, pessoas que não se conhecem, não um ao outro, mas a si mesmas e querem dividir cama, família, tarefas, cumplicidade e compromisso, mas pergunto: como? Como ter uma relação que é de casamento e não de namoro, se você mal sabe o que quer da vida ou mal se conhece? Como querer vivenciar um namoro se você ainda não resolveu seu karma familiar? Por isso que cada vez menos os casamentos dão certo. Pessoas mal resolvidas, que não conhecem a si mesmas e muito menos ao outro e que cobram um do outro moralidade! Por isso volto aqui ao início de tudo: viver em solitude! Se você não amar a si mesmo, se não for feliz consigo mesmo, sozinho e livre, com amor dentro de si, buscando se conhecer ao máximo, buscando compreender as pessoas, a sua família, aceitar e se desapegar dessas, jamais poderá relaciona-se em amor.

Relacionamento é necessário quando existe a ausência do amor. Relacionar-se em amor é viver em comunhão com a Existência, é estar aberto e ter coragem para não deixar o relacionamento acontecer, amor é aprofundar; quando mais profundo você de relaciona em amor mais liberdade existe, mais confiança, mais aceitação. Amor não é seguro, relacionamento é. Saiba que amor é algo que surge do nada e só é possível entre duas pessoas assim. Pessoas amorosas não precisam de relacionamentos. Você pode optar pelo seguro ou pode optar em arriscar-se, sabendo que pode acabar amanhã, mas a decepção e a dor só existirão quando não houver amor dentro de você. Quando duas pessoas amorosas escolhem andar juntos, então um bom casamento poderá existir, pois apenas existirá crescimento, aceitação, liberdade e confiança. O amor só existe no presente, no Agora. Cure e desapegue-se do passado, não crie expectativas do futuro, viva em conexão com o Universo e relacione-se em amor e liberdade.

Vinícius Casagrande Fornasier

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