Liberte-se do espelhamento nos relacionamentos



O tema de hoje é bastante pertinente à realidade atual dos relacionamentos afetivos. Como visto nos artigos anteriores (da série relacionamento, amor e liberdade), o autoconhecimento e o amor próprio são fundamentais para relacionar-se em amor. A compreensão da solitude, desapego e liberdade são de extrema importância para não vivenciarmos relacionamentos kármicos. Quando falo de “kármico”, me refiro a vivenciarmos um passado mal resolvido, podendo incluir o karma familiar e o karma do seu parceiro, o que é chamado de espelhamento ou também projeção.

Espelhamento é, portanto, uma troca de karmas entre duas pessoas. Um exemplo disso é quando um casal tem algo mal resolvido com relacionamentos anteriores, incluso a própria família (pais principalmente). Se um dos parceiros tiver uma ausência paterna, por exemplo, a tendência é buscar inconscientemente um parceiro que supra essa ausência, criando assim uma dependência e apego ao outro. Um espelhamento semelhante é quando a pessoa tem um pai ou mãe agressivos, levando o companheiro, mesmo que normalmente calmo, despertando nele a agressividade. São padrões de espelhamentos inconscientes. É preciso entender que ambos possuem isso. Significa que se a mulher tem um pai agressivo o seu companheiro possui o mesmo padrão, mesmo que seja inconsciente (vidas passadas ou karma familiar). É como um quebra-cabeça – é preciso ter o encaixe para as peças se acoplarem. Outro padrão muito comum é o de insegurança, causado por vários motivos desde a concepção (uma rejeição dos pais), nascimento (parto cesáreo principalmente), até a primeira infância e adolescência (rejeição por amigos e colegas de escola) e, de acordo com a educação, afetividade dos pais, entre outros fatores, levam a pessoa a ser desconfiada, ciumenta e apegada. Isso também gera a traição, pois existe o medo de mudança (de terminar o relacionamento), porém, existe um enorme desejo de conhecer outras pessoas, mesmo que seja apenas a nível carnal (falarei sobre esse assunto mais adiante em outro artigo). O espelhamento nada mais é que uma ilusão de si mesmo e do outro. A tendência é um julgar o outro, apontando o dedo um ao outro com cobranças infindáveis. É aqui que surge o controle, possessividade, ciúmes, desconfiança e outros mais. Cria-se também a ilusão de si mesmo, onde limitado pelo ego, a pessoa julga ser dona da razão, não enxerga os próprios erros e fraquezas e claro, se protegendo, exigindo que o outro mude e assim, vice-versa. Atualmente na sociedade, muitos relacionamentos estão ruindo devido a isso. Não há mais como viver relacionamentos à moda antiga. Ambos precisam ser independentes, ambos precisam ter vidas próprias, sem depender de alguém. Há também, muitos casos de relacionamentos mal acabados. Quando um relacionamento termina é preciso compreender a lição disso. Na maioria dos casos são relacionamentos kármicos, portanto, ao terminar a relação, sempre há raiva, apego e sofrimento. Quando isso não é superado, perdoado e compreendido (como uma lição, para amadurecimento), então a pessoa carrega isso adiante e espelha no próximo relacionamento, o que significa que você sempre vai encontrar pessoas com os mesmo padrões e isso vai virando uma bola de neve e tornando você cada vez mais vazio. Você tem que parar! Se quiser a libertação disso, o caminho é a solitude, é o amor, o perdão e a compreensão de si mesmo.

Pessoas que tem padrões de espelhamento, também podemos dizer que são imaturas. O termo imaturidade pode ser amplamente discutido e conceituado, porém aqui falo de maturidade emocional. Penso que quando maior o autoconhecimento, maior a maturidade. O autoconhecimento começa muito cedo, ainda na infância. Se a criança não tiver uma infância feliz, brincando e vivendo como criança, além de desenvolver a noção de responsabilidade e individualidade (desapego dos pais), nesse momento poderá vir a desenvolver “pendências” emocionais. Exemplo disso é uma criança que tem pais ausentes e sofre na infância, levando a pessoa na vida adulta ser muito séria, desconfiada e medrosa. A criança que constantemente ouve “não” dos pais também pode perder completamente a noção da “descoberta”, do experenciar, da inocência, fazendo com que na vida adulta seja insegura, passiva, sem motivação e autoridade. A todos os exemplos também pode ocorrer de a pessoa na vida adulta ser o aposto das fraquezas, que nada mais é que a proteção do ego (pessoas autoritárias, orgulhosas, invejosas, controladoras, etc.).  O mesmo na adolescência – o jovem não “vive” a fase, não vivencia o que há para ser vivenciado e então se criam “pendências”. Exemplos disso são jovens que começam a trabalhar muito prematuramente ou também, namorar muito cedo e perdem a fase do “experimentar” (conhecer pessoas, fazer festa, etc.) o que faz a pessoa chegar à vida adulta com dúvidas, inseguranças, desejos de experimentar coisas que não vivenciou e enfim, a isso chamo de imaturidade. Podemos dizer que existem pessoas com 40 ou 50 anos que ainda possuem uma maturidade de 18 anos (a nível emocional), assim como jovens de 18 a 25 anos que podem ter uma maturidade de 40 (a nível profissional, por exemplo). A questão “maturidade” é bastante complexa, mas não é apenas a “vivência” da pessoa. Ter já vivido 30 ou 50 anos não quer dizer que a pessoa é madura. Maturidade na minha percepção é quando a pessoa tem uma busca constante pelo autoconhecimento e mais que isso, é consciente de si mesmo, dos erros – é a pessoa que quer sempre melhorar e mudar. É preciso para ser maduro, além de conhecer o mundo (que nos cerca de infinitas possibilidades e inúmeras experiências), conhecer a si mesmo, conhecer seus limites, saber o que gosta e o que não gosta, conhecer suas virtudes e defeitos e ser sincero e verdadeiro consigo mesmo e com os outros. É preciso saber sentir, aprender com cada experiência, expandir a consciência e nunca suprimir a uma dor ou sofrimento devido a alguma derrota ou decepção – tudo é aprendizado – tudo que ocorre em sua vida são oportunidades de evoluir – não as desperdice!

E como podemos nos libertar da ilusão, dos karmas e dos espelhamentos nos relacionamentos? Como posso amadurecer e desenvolver o autoconhecimento? Voltemos ao ponto inicial! Amor a si mesmo, solitude, liberdade. O que surge na mente de muitos é: “mas como farei isso?” ou também: “isso não é fácil, eu não consigo”. Ok. Não é tão fácil assim mesmo. O que torna as coisas difíceis é a nossa mente. A mente constantemente tenta nos enganar e temos medo do desconhecido, medo de se libertar daquilo que é conveniente ou cômodo, na qual já somos acostumados e sabemos o caminho. Mas como diz meu mestre Osho:

A sociedade lhe ensina: "Opte pelo conveniente, pelo confortável. Opte pelo caminho batido na qual seus antepassados, desde Adão e Eva, já caminhavam. Essa é a prova - tantos milhões de pessoas já o percorreram, não pode ser o caminho errado."
Mas lembre-se de uma coisa: a multidão nunca passou pela experiência da verdade. A verdade só aconteceu a indivíduos. Sempre que houver alternativas, tenha cuidado. Não opte pelo conveniente, pelo confortável, pelo respeitável, pelo socialmente aceitável, pelo honroso. Opte pelo que faz o seu coração vibrar! Opte pelo que gostaria de fazer, apesar de todas as consequências.

Seguir o coração é sempre é melhor alternativa. Claro que uma vida dura e reprimida pode bloquear o acesso ao coração e à intuição. Mas para isso existem muitos meios. Não estamos sozinhos, e melhor que isso, estamos num mundo de possibilidades, portanto, podemos recorrer a vários meios, como terapia por exemplo. O renascimento é um dos recursos mais eficazes para libertação e autoconhecimento. Curar o karma familiar, libertar-se dos velhos padrões, da pessoa que se foi, perdoar e amar a si mesmo são fundamentais. É um caminho para ser feito só – em solitude. É necessário querer e acreditar. O planeta precisa de pessoas “completas”, livres e com amor próprio. Relacionar-se em amor só acontece em liberdade. Livre-se dos véus da ilusão, vença o medo e a miséria – liberte-se e viva amorosamente sua vida e então, opte em dividir seu amor e felicidade com alguém igualmente iluminado, para que vivam de forma interdependente, apenas enriquecendo um ao outro com amor, confiança e liberdade.

Comentários

  1. Vini querido, sou uma pessoa que vive em eterna procura e descoberta de mim mesmo, esse teu texto me tocou com certeza...espero aprender e ser cada dia mais plena e feliz..beijo Tita

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